Nas fronteiras do patrimônio: conflito e negociações em torno do uaicarajé em Juiz de Fora, Minas Gerais
DOI:
https://doi.org/10.21726/rcc.v14i1.2443Palavras-chave:
uaicarajé, patrimônio, apropriação cultural, identidadeResumo
Ao homenagear o acarajé nomeando-o de uaicarajé (petisco vencedor da competição gastronômica Comida di Buteco 2022), o restaurante mineiro Reza Forte foi acusado de apropriação cultural por usuários da rede social Instagram. Compreender o contexto mais geral em torno dessa polêmica constitui o principal objetivo de nosso trabalho. Nosso recorte metodológico, de natureza qualitativa, vale-se de pesquisa bibliográfica e exploratória e de uma abordagem hermenêutico interpretativa (Geertz, 1978, 1997; Minayo, 1992; Fleury, 2002). Teoricamente, mobilizamos noções próprias do campo antropológico e sociológico como apropriação cultural, globalização, aculturação, midiatização e patrimônio para dar conta do fenômeno investigado (Warnier, 2003; Fleury, 2002; Amirou, 2000; Hafstein, 2011; Gonçalves, 2005; Santos, 2010). Anunciado no Instagram no dia 7 de abril de 2022 para a competição gastronômica Comida di Buteco 2022, o uaicarajé mineiro rapidamente despertou a atenção de usuários da rede social pela referência ao acarajé, patrimônio imaterial registrado em 2005 no livro de saberes do IPHAN. O acarajé é uma importante referência cultural e identitária das mulheres pretas que o produzem e o vendem nas ruas da Bahia e de todo o Brasil, e a polêmica envolvendo o uaicarajé acionou um campo social (Bourdieu, 1989; 2009) cujas tensões e disputas situam a categoria patrimônio em carrefour de sentidos.