Nova edição publicada v. 13 n. 2 2024
Caros autores e leitores:
É com muita satisfação que compartilhamos a publicação do v. 13; n. 2, 2024 da Revista Confluências Culturais e do Dossiê História e Patrimônio: da imigração do século XIX ao presente, organizado por Euler Renato Westphal (Univille) e João Klug (UFSC)
Em 2024, a Revista Confluências Culturais fecha o seu décimo terceiro volume com quatro artigos de fluxo contínuo que abarcam os diversos temas e aspectos que perpassam as discussões sobre o Patrimônio Cultural.
Imagens de uma separação: as histórias em quadrinhos como preservação da memória, de Thiago Henrique Gonçalves Alves, demonstra a intensa relação entre a linguagem dos quadrinhos e a preservação da memória. O autor discute o quadrinho sul-coreano A espera, de Keum Suk Gendry-Kim (2021), que trata da Guerra da Coreia (1950-1953).
A (i)mobilidade das memórias das cidades em edifícios históricos, de Heidi Ferreira da Costa, apresenta uma investigação teórica interdisciplinar entre memória, patrimônio edificado e políticas públicas de patrimônio. A autora avalia os motivos para os processos de abandono ou ressignificação das memórias e dos espaços.
Também interessada em analisar questões sobre o abandono do patrimônio, Monica Marlise Wiggers, no artigo O IPHAN e o patrimônio natural no Rio Grande do Sul: atuação do órgão entre 1937 e 2024, aborda a atuação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no território sul-rio-grandense. A autora identifica a ausência ou a demora dos tombamentos na tipologia patrimônio natural, estimulando a reflexão sobre a crise ambiental e o descaso do Estado.
Memória e patrimônio enquanto elementos de potência da educação patrimonial: formas de leitura e escrita historiográfica, de Fernando Souto Dias Neto, propõe olhar o acervo do Museu Gama d’Eça (Santa Maria – RS) como um espaço de produção de saberes pela prática educativa. O autor tece contribuições importantes sobre o papel da memória nos monumentos e acervos presentes na cidade, partindo de uma perspectiva crítica e emancipatória.
Além dos artigos de tema livre, publicamos o dossiê História e Patrimônio: da Imigração do século XIX ao Presente, coordenado pelos professores Euler Renato Westphal e João Klug. Esse dossiê apontou para a necessidade de pesquisas sobre os processos de imigração que constituíram um movimento contínuo desde o século XIX no Brasil. A ocupação das terras ou a necessidade de substituição da mão de obra escravizada pelo trabalho livre marcou a entrada de um número crescente de europeus no país, direcionados para o trabalho na Grande Lavoura, os vários espaços urbanos ou os núcleos coloniais agrícolas nas regiões de fronteira. O historiador Martin Dreher (2003, p. 32-35) afirma que “com a eliminação da escravidão de gleba”, promulgada na Prússia em 1807, os proprietários de latifúndios foram beneficiados, pois ficaram dispensados de seus compromissos com os servos de gleba. Assim, o empobrecimento e abandono da população levou à imigração para o Brasil.
Após as revoluções de 1848, pessoas abastadas e com formação acadêmica também emigraram para o Brasil (Matzke, 2018). Em 2024, acionam-se memórias sobre as primeiras famílias que se estabeleceram em Nova Friburgo (RJ) em 3 de maio de 1824 e em 25 de julho do mesmo ano em São Leopoldo (RS). Esse processo imigratório somou-se à chegada de um elevado número de africanos trazidos pelo tráfico negreiro até 1850 (Schwarcz; Gomes, 2018). A vinda de mais de um milhão e meio de africanos gerou igualmente fortes repercussões na história do Brasil (Conrad, 1975). O luteranismo, Luthertum, como expressão teológica, o catolicismo e as religiões de matriz africana estiveram indissociavelmente interligados à história da imigração. Não se pode esquecer que a partir de tal fluxo migratório essas pessoas trouxeram suas cosmovisões para as terras brasileiras (Baade, 2014; Zimmer, 2014). Por outro lado, as questões teológicas que se fizeram presentes com esse fluxo de imigrantes para o Brasil entrelaçaram-se com fatores culturais, políticos, econômicos, ambientais e sociais.
Este dossiê temático sobre história e patrimônio cultural teve como objetivo abordar diferentes aspectos da história da imigração. Assim, somos convidados a analisar os fundamentos culturais e históricos sobre as imigrações (Tambara; Fonseca, 2012). Com base em tais considerações, os objetivos foram problematizar, discutir e compartilhar as pesquisas, bem como apontar dificuldades no processo de investigação sobre o tema.
Portanto, o dossiê reuniu cinco artigos que abordaram a imigração nas suas diferentes temporalidades e espacialidades.
Abrindo o dossiê, o artigo Açorianismo: uma imagem sem espelhos? de André Soltau, José Isaias Venera, Taiza Mara Rauen Moraes, traz um estudo sobre a prática discursiva de escritores regionalistas de Santa Catarina, acompanhando as questões sobre a açorianidade e a identidade assentada em tradições.
Em História, memória e patrimônio italianos: Hospital Matarazzo de São Paulo, Maria Izilda Santos de Matos e Thais Teixeira Brambilla enfocam a presença italiana em São Paulo e a polêmica da destruição do patrimônio histórico pelos interesses do capital imobiliário. O Hospital que teve seus edifícios tombados pelo Condephaat, em 1986, passou por um processo de revisão do tombamento, com o objetivo de viabilizar a construção de um complexo de alto luxo denominado “Cidade Matarazzo”.
A seguir, Cybelle Salvador Miranda, no artigo A Sublime Arte da Arquitetura: a identidade da colônia portuguesa na Belém imperial, discute a identidade portuguesa no edifício do Hospital D. Luiz I da Real Sociedade Portuguesa Beneficente, na cidade de Belém, Pará. A autora analisa os documentos produzidos pelo arquiteto português Frederico José Branco e os membros da sociedade portuguesa, em um contexto de antilusitanismo vigente na Província do Pará imperial.
Monumento Nacional ao Imigrante Brasileiro: história, turismo e conflitos em Caxias do Sul-RS, Brasil, de Susana Gastal e Rosana Peccini, aborda o Monumento Nacional ao Imigrante Brasileiro, de autoria do escultor Antônio Caringi, inaugurado em 1954, na cidade de Caxias do Sul-RS, Brasil. Localizado em um espaço que lhe confere visibilidade urbana e turística, a instalação do Monumento não foi pacífica, assim como os seus usos na atualidade levantam controvérsias tanto para o turismo como para as práticas museológicas da Cidade.
No quinto artigo do dossiê, A família portuguesa na comunidade de Santa Isabel e sua atuação na formação dos lusodescendentes (1960-1980), Natalia da Paz Lage tece a história de filhos e netos de imigrantes portugueses fundadores da comunidade de Santa Isabel, localizada na cidade de Petrópolis/RJ. A autora apresenta um acervo de 13 entrevistas de imigrantes e descendentes, para entender a formação identitária da comunidade.
No último texto do volume 13, temos o ensaio Desafios e (re)construções identitárias no Brasil: o legado desenvolvimentista e a diversidade cultural em diálogo com a América Latina, de Luiza Ritz Bertocco. A autora desenvolve uma discussão sobre os aspectos das políticas desenvolvimentistas, impostas por potências econômicas que podem exacerbar desigualdades. Por outro lado, ela defende a importância das respostas decoloniais ancoradas nas diversidades culturais para a criação de estratégias de resistências.
A Confluências Culturais agradece o trabalho realizado pelos editores, revisores, coordenadores do dossiê e pelos pareceristas anônimos. Esperamos que os leitores encontrem nos artigos discussões que apontem para novas perspectivas no campo da história e do patrimônio cultural da imigração.
Pela revista
Dra. Taiza Mara Rauen Moraes
Dra. Roberta Barros Meira
Pelo dossiê
Dr. Euler Renato Westphal
Dr. João Klug
https://periodicos.univille.br/RCC/issue/view/136
Agradecemos os artigos submetidos e o trabalho cuidadoso da Editora da Univille
Abraço a todos e todas
Equipe editorial